domingo, 16 de agosto de 2009

Dormi contigo a noite inteira...



Dormi contigo a noite inteira
junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde
nossos sonhos se uniram
na altura ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono
se separou do meu
e pelo mar escuro
me procurava
como antes,
quando nem existias,
quando sem te enxergar
naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam
o que agora
- pão, vinho, amor e cólera -
te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça
que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo
a noite inteira, enquanto
a escura terra gira
com vivos e com mortos,
de repente
desperto
e no meio da sombra
meu braço rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor,
despertei, e tua boca
saída de teu sono
me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas,
de tua íntima vida,
e recebi teu beijo
molhado pela aurora
como se me chegasse
do mar que nos rodeia.
(A noite na Ilha - Pablo Neruda)

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